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Mitos sobre pratos de bateria – Parte 1

Nesta série sobre os mitos relacionados aos pratos de bateria, em alguns capítulos, vou apresentar argumentos sólidos para esclarecer algumas opiniões que, muitas vezes, confundem e induzem o Baterista ao erro na hora de escolher seu instrumento.

Meu nome é Bruno Schell, sou londrinense pé vermelho, pai de família, baterista desde 1996 e deixei minha carreira de engenheiro para viver full time fabricando, customizando e reparando pratos de bateria.

 

B20 é melhor que B8

Opa, peraí! Com apenas uma informação sobre o prato não é possível chegar nesta conclusão. Primeiro temos que considerar o fator principal, o que mais influencia o som do prato, e pasmem, não é a liga. Estamos falando do TIPO DO PROCESSO EM QUE O PRATO É CONFORMADO. Este processo influencia muito mais no som do prato do que a própria liga.

Mas o que é conformação de um prato? Respondo: É o processo que, por meio de aplicação de força, dá forma ao prato, para ele deixar de ser um disco plano. É o que dá essa cara de guarda-chuva ao seu querido amigo címbalo.

Você já deve ter ouvido alguém dizer: “Nossa, nem parece som de B8!”, mas o prato era em B8. Já temos aí uma pista de que pelo menos parte do processo de conformação, neste instrumento em questão, é mais adequado ao universo dos instrumentos musicais.

Se você ainda não sabe o que é B8, B20, etc., segue uma explicação bem resumida: Bronze é uma liga, ou seja, não é um metal que você encontra na tabela periódica. É uma mistura de metais, e em nosso mundo baterístico, o número que vem depois do “B” é a porcentagem de estanho. O resto é cobre. E essa nomenclatura de B8, B10, B15 só existe pra gente. Em outras indústrias, como a da metalurgia por exemplo, os tipos de bronze recebem outros nomes, bem mais complicados.

Fabricar prato de bateria é trabalhoso. Agora, se o prato é realmente profissional, refinado, musical, fabricá-lo é algo no mínimo 100 vezes mais trabalhoso, isso porque alguns atalhos na produção não poderão ser utilizados, já que infelizmente sacrificam a musicalidade do instrumento. Utilizar estes atalhos é algo necessário para os grandes fabricantes, pois eles invariavelmente precisam de escala industrial, senão o negócio não se sustenta.

Estes atalhos são dois e cada um tem um nome: Torno de repuxo e Prensa. É isso que limita a sonoridade do bronze, seja ele B8, B20, ou o B que você quiser. A conformação por Torno de Repuxo demora alguns segundos, já a conformação estampando por sequência de Prensas, alguns minutos no máximo. Ambos utilizam matrizes no formato do prato, e os discos são pressionados nelas para atingir o shape.

Prensagem de prato em uma matriz

 

Uma outra maneira de conformar um prato de bateria é com martelamento. Se for automatizado, não vai demorar tanto, mas se for manual… realmente manual… vai demorar muito tempo. Estamos falando de um horizonte de 45 minutos a quase duas horas de ding, ding, ding, ding, a depender da espessura, liga e diâmetro do blank.

Compare segundos para quase duas horas, quando se trata somente da conformação. Obviamente o fabricante que procura escala industrial, vendas B2B, vários endorses, preço baixo, vai preferir o processo mais rápido. Enquanto isso pequenos fabricantes, ora por falta de capital para investir em estrutura e equipamento pesado, ou somente por procurar entregar um instrumento mais musical, vão preferir martelar manualmente de verdade, levando o tempo que for necessário. São nichos diferentes, e a participação no mercado do pequeno fabricante é apenas um traço, porém altamente prestigiado.

 

Existem os pratos que são:

– Planos inicialmente e então repuxados para atingir o shape;
– Planos inicialmente, repuxados para atingir o shape e martelados para fins decorativos;
– Planos inicialmente, repuxados para atingir o shape e martelados para fins sonoros;
– Planos inicialmente e então prensados para atingir o shape;
– Planos inicialmente e então martelados para atingir o shape;
– Prensados a quente;
– Prensados a quente e então martelados para fins sonoros;
– Martelados para um pré shape e prensados para a forma final;
– Fundidos no pré shape e martelados para fins sonoros.

Ainda existem outras variações, mas são raras de se encontrar no mercado atualmente.

 

Então o som do prato repuxado é pior do que o prato martelado à mão? Sim. Ponto final. Independente da liga. Aqui o melhor e pior está ligado à complexidade sonora, aquele som mais rico, com mais frequências presentes (principalmente as mais baixas), que a grande maioria dos bateristas relacionam como características do B20. Mas não é exclusividade desta liga, e você vai entender o porquê.

Quando você olhar para um prato, tente “ler” o instrumento. Procure por marcas de martelamento irregulares. Se você tentar mapear todas essas marcas de martelamento, vai perceber que se trata de um arranjo complexo, não é?

Então as chances do som ser complexo também é verdadeira. Se o prato é liso, prensadão, repuxado, já pode esperar por uma sonoridade mais rasa, menos complexa. Isso na prática significa que para conformar o instrumento, foi utilizado um “guia”, uma matriz, algo já no formato para copiar na chapa. Fisicamente, uma grande área – a da matriz – pressionou toda a área da chapa e transformou-a em prato.

Pressao e igual a força dividido pela area

 

Na escola, você deve ter aprendido que “a pressão é inversamente proporcional à área”. Ou seja, quanto mais área, para uma mesma força, menos pressão você vai ter em uma região. A área da ponta de um martelo é muito menor do que a área de uma matriz. Então ao martelar um prato, inclusive utilizando menos força em relação a de uma prensa, conseguiremos as chamadas impressões de martelamento. Pode chamar de marcas de martelamento mesmo. É o bronze recebendo força, se deformando e mantendo este formato (a plasticidade do metal “ganhando” da elasticidade), somando tensões para então convergir para o bendito shape.

Vixe, ficou complicado? Então lembre-se apenas do seguinte: As ondas no prato irão percorrer caminhos mais irregulares nos que receberem martelamento manual, e essa irregularidade resulta em uma sonoridade mais complexa e cheia. Se o caminho que a onda precisar percorrer for bem fácil, liso, a energia do impacto se dissipa mais rapidamente, deixando de gerar boa parte dessas frequências que nós tanto adoramos ouvir.

Prato de Bateria em processo de martelamento

 

E eu não disse que isso só é válido no B20. Se um prato em liga B8 for realmente martelado à mão, ele também emitirá frequências desta natureza, que muitos associam aos bronzes com mais estanho na composição.

Então não é a liga que predomina na sonoridade, e sim a maneira em que o prato é conformado. Não utilize argumentos genéricos e simplórios, agora que você detém este tipo de conhecimento. Também te convido a se aprofundar no assunto, que é vastíssimo, se interessante for para sua pessoa.

P.S.: Existem pratos suíços em B8 que custam muito mais caro e tem uma sonoridade bem mais rica e complexa do que muitos B20 famosões por aí. E esses suíços topos de linha não são prensados e nem repuxados – pode ter certeza disso.

 

1000 play alongs de bateria

 

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2 Comentários
  1. 27 de março de 2019
  2. 4 de fevereiro de 2019

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